quarta-feira, 8 de junho de 2011

Coimbra tem mais encanto na hora... do rock n' roll! Entrevista com Pedro Chau PARTE II




















5 - Achas que se pode falar de uma "cena musical de Coimbra"? De "Capital do Rock"? Ainda que seja numa vertente mais "marginal"?


Existem pessoas a fazerem música ou a contribuir para ela participando de outros modos. Penso que como “cena” a coisa é fraquinha. Seria necessário uma unidade e inter-acção entre pessoas ainda maior que se identificasse com os mesmos sentimentos. Isso de chamar “capital do rock” a Coimbra só porque alguns grupos de cá se destacaram fora da cidade e fora do país acho que é um exagero. Quem é de cá ou já cá veio, deve saber das carências que continuam a existir como a falta de um público que se interesse e entenda a linguagem variada que o rock'n'roll vem tendo desde o seu nascimento na década de 50 até aos nossos dias. A Câmara Municipal também parece continuar a ignorar este lado da música que no fundo sempre foi e será o lado mais genuíno e criativo. Mas isto não é um problema só de Coimbra, mas sim de Portugal. Espanta-me como é que na década que passou, que foi tão interessante noutros países da Europa, aqui tenha sido tão adormecida. Mas agora dou-me conta que o sonambulismo foi geral, em muitas áreas. Portugal tem sido mais um país em que se consome e pouco se produz.
Apesar de tudo acho que as coisas estão a melhorar em relação a anos anteriores. Acaba de ser realizado o Bad Trip Festival no clube States e apesar de a aderência de pessoas não ter sido grande, houve um muito bom ambiente que certamente quem lá esteve não se vai esquecer. Acho que ao contrário de outros anos, agora em Coimbra, se pode finalmente ouvir música mais variada e para gostos diferentes, mas volto a repetir o que falta é mais público a participar, maior produção musical e maior abertura pelas entidades que gerem os estabelecimentos que infelizmente a alguns só lhes interessa o lucro.



6 - Porque achas que muitas bandas portuguesas optam por escrever em inglês? Gostarias de ter um projecto cantado em português?

Talvez porque sintam uma maior influência vinda de grupos que cantam em inglês. Cada um que cante o idioma que lhe apetecer. O inglês é a segunda língua que se aprende desde muito cedo nas escolas e também é a língua mais associada ao rock, portanto não admira que se opte por cantar em inglês. Se gostaria de ter um projecto cantado em português!!!! Não sei, mas duvido bastante porque a maior parte da música que oiço é cantada em inglês. Também gosto de alguns grupos que cantam em português isso não há duvida. Acho também interessante um grupo cantar nos dois idiomas, ou mais. Gosto como soam muitos daqueles grupos que fizeram parte da explosão de rock, new wave e punk português no início dos 80's.

7 - Voltando ao tema dos DJ, achas que faz algum sentido fazer-se a distinção entre DJ e os chamados "bota-discos"? Achas que a técnica é essencial ou dás preferência ao sentimento e à intuição?

Nunca tinha ouvido falar no termo “bota discos”, se calhar é mais adequado para mim eheheh!!!!!
Acho que a técnica é mais importante na música electrónica como o electro, o house, techno, Drum'n'bass, dubstep ou remisturas de musicas pop ou rock. Quanto ao sentimento e intuição acho que é sempre importante, não só na música, mas também noutras formas artísticas. Sinceramente não sei se se deva ou não fazer distinção!! O que se deve valorizar é a relação que a pessoa tem com a música. Este tipo de questão surge mais em meios ou cidades pequenas onde Dj's com estatutos e interesses musicais diferentes se cruzam, levando assim a reflexões ou conflictos deste tipo.

8 - Achas que há uma noite coimbrã mais "comercial" ou de massas, em termos de programação musical, e outra talvez mais interessada por música não tanto ouvida nas rádios, por exemplo, ou talvez mais de culto?

Em Coimbra as programações de maior destaque estão quase sempre associadas à música mais comercial, consumida pela maioria, que não tem uma opinião tão crítica ou não tem muita cultura musical. No entanto, não quero deixar de dizer que existem alguns bares na cidade que estão receptivos a música que está fora dos circuitos comerciais. O clube States que está de volta parece estar também a fazer concertos que é muito bom. A Rádio Universidade de Coimbra também é responsável por criar programas em que se explora tanto música que já foi feita ou ficou perdida no tempo e merece ser ouvida, como também, música mais recente que tenha acabado de sair.




Obrigado Pedro! Até qualquer dia!

sábado, 14 de maio de 2011

Coimbra tem mais encanto na hora... do rock n' roll! Entrevista com Pedro Chau - Parte I

Boas!

Hoje temos mais uma entrevista com uma pessoa ligada à música em Coimbra. Hoje é a vez do Pedro Chau. O Pedro esteve em várias bandas, em Coimbra e em Londres, mas a única vez que o vi actuar foi num dos últimos concertos dos Parkinsons, senão mesmo o último, em que a banda actuou em trio na Queima das Fitas de Coimbra. Esse trio era composto por ele, Victor Torpedo e a participação especial do Kaló. Hoje em dia actua como DJ em várias casas de Norte a Sul do país e prepara-se para uma reunião dos Parkinsons no fim do mês.


Mas vamos à entrevista:


Costumas actuar como Dj. Como te sentes nessa pele? Que conceito abrangem as tuas escolhas atrás da mesa?

Exactamente. Foi mais ou menos em 2003 que comecei a gostar de passar música em bares e clubes da noite londrina. Desde os meus 14/15 anos que nunca deixei de comprar discos sempre que posso, especialmente em vinil. Uma obsessão ou um prazer para a vida, mas regulado pelas possibilidades económicas porque muitos discos não os posso ter e outros não os pude comprar. Encaro os convites e a possibilidade de fazer dj sets como um meio de mostrar a música que gosto, de a ouvir e também de convidar as pessoas a dançar. Dançar é importante como uma terapia, uma forma de comunicação ou libertação que pode ser individual ou em grupo. Penso que em Portugal ainda existem bastantes inibições e pouca abertura aos sentimentos que a música provoca. Quanto às escolhas, estas podem ser ou não espontâneas, abrangendo formas musicais diferentes que dependem da temática da noite ou de mim, mantendo sempre com uma certa coerência nas passagens de música para música.


Fala-me um pouco do teu percurso como músico até hoje?

Não me vejo como um músico. É preciso fazer-se muito mais para se ser músico no âmbito da produção ou criação, mas no entanto, contribuí e colaborei com grupos que fizeram música.
Iniciei-me no baixo num grupo chamado Garbage Catz. Depois toquei nos Seventy Seven (77) e gravei uma demo com um projecto que durou pouco que se chamava Planet Jacumba. Mais ou menos nesta altura e depois do baixista André Ribeiro ter abandonado o grupo, passei pelos Tédio-Boys com quem ensaiei e actuei umas seis vezes. Com o final dos Tédio, o Victor Torpedo surge com a ideia de formar os Parkinsons e ir viver para Londres. Vivia-se entre nós um clima de frustração por viver em Coimbra, era uma cidade super fechada à música que gostávamos, que eram grupos mais ligados ao lado mais marginal e hedonista do rock'n'roll e, portanto, jamais poderia corresponder aos nossos sonhos e expectativas. Londres foi a salvação, estava lá tudo o que nos seduzia e com o qual nos identificávamos. A partir daqui foi o começo de uma nova era relacionada com a emergência dos Parkinsons dentro do contexto do rock'n'roll londrino, os clubes onde começámos a tocar, as tours, mais tarde os festivais, as inesquecíveis idas por duas vezes ao Japão e uma aos Estados Unidos. Depois foi o declínio da banda, uma série de problemas, decisões mal tomadas, más escolhas e falta de maturidade que fez o grupo se perdesse e desmotivasse. Mas não vou entrar em mais pormenores que me emociono e começo a fugir à pergunta. Com o fim dos Parkinsons sou novamente convidado pelo Victor para fazer parte dos Blood Safari, projecto que me seduziu bastante mas que infelizmente não andou para a frente por falta de união, demasiada passividade e divergências entre os membros mais indispensáveis ao grupo. A nível musical Blood Safari foi a banda que mais gostei. Gravámos um 7'inch com quatro músicas que eu gosto bastante, mas depois, o album foi uma pena para mim, o estúdio foi caríssimo e não tivemos tempo para fazer muito. Em consequência disso, o album não demonstra nem metade do valor que esse grupo poderia ter sido capaz. Desde a minha saída dos Blood Safari em 2007 que não voltei a participar em nenhum outro projecto, estando ligado à música apenas através dos dj sets. Mas nunca se sabe, “future is unwritten”. Por acaso, já dentro de uns meses haverá uma reunião dos Parkinsons que será composta por alguns concertos entre Londres (Dirty Water Garage Rock Festival) e Portugal (Quarteira Rock Festival e C.E.O em Lisboa). Será uma experiência curiosa, pois já não tocamos juntos desde 2006 que foi a última reunião da banda no mítico Dirty Water Club no Boston Arms Music Room para um audiência magnífica.




Quais as bandas/artistas que mais te influenciaram e quais os concertos que mais te marcaram, como músico e como espectador?

Bandas e artistas que me influenciaram!! Hummm!!! Entre os meus 12-15 anos passava o tempo a ouvir Cure, Smiths e Xutos & Pontapés. Depois foram os Sex Pistols, os Ramones, os Clash, o primeiro dos Censurados e dos Mata-Ratos, os Tédio-Boys e os Cramps. Agora estou a ver, são muitas as bandas que me influênciaram ao longo destes últimos vinte anos. O Little Richard, Jerry Lee Lewis, Fats Domino, Rolling Stones, Kinks, The Seeds, James Brown, Radio Birdman, Wire, Motorhead, 13th Floor Elevators, Electric Prunes, Stooges, Mc5, Velvet Underground, Joy Division, The Horrors, Suzy & the Banshees, The Star Spangles, Krafwerk, Jon Spencer, Tav Falco, etc. Podia escrever páginas e páginas de grupos que me influênciaram. Desde há anos que já não tenho banda favorita como quando se tem 16 ou 17 anos, gosto de muita coisa, de formas musicais variadas.
Concertos que me influênciaram!!!! Deixo aqui alguns: Nos anos 90 sem dúvida alguma os Tédio-Boys, Iggy Pop na Queima das Fitas em 1993, Cramps em Lisboa no Campo Pequeno, Jon Spencer no Brixton Academy em 2002, Suicide no Garage em 2000, Patti Smith no Ocean em 2001, Franz Ferdinand na Zambujeira em 2004, Motorhead no Brixton Academy em 2000, Love no Forum em 2003 com os Seeds como banda de suporte, The Horrors no 100 Club no verão de 2006, Wilko Johnson no Dirty Water Club em 2000 e muitos mais que agora não me consigo lembrar.


Quais as bandas que mais destacas no panorama musical português?

Neste momento estou-me a lembrar de Dead Combo, d3o, Glockenwise, Wray Gun, A Jigsaw, Tiguana Bibles, Bunny Ranch, Nicotine's Orchestra, Sean Rilley & the Slow Riders, Black Bombain, Mean Devils.....!


Continua...

terça-feira, 29 de março de 2011

Coimbra tem mais encanto na hora... do rock n' roll! Tiguana Bibles/Sean Riley and The Slowriders

Boa tarde!

Tiguana Bibles no Tertúlia Castelense/Entrevista com Tracy Vandall




Sean Riley and The Slowriders, Eurosonic, Groningen - Holanda, 14 Janeiro 2011


Brevemente, Entrevista com Pedro Chau!

Abraços

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Força da Soul

Boa tarde!

Hoje deixo-vos simplesmente com 2 vídeos de Duffy, galesa de 26 anos, dona de uma voz da qual sou um enorme fã, uma cantora soul de grande talento.

Tem dois álbuns editados, Rockferry, de 2008, e Endlessly, de 2010. Foi com o primeiro que atingiu maior notoriedade, entrando directamente para o número 1 do top inglês e arrecadando vários prémios de renome.

Duffy é atitude, postura, soul, voz, poder... É de bradar aos céus quando a colocam no mesmo cesto de Britneys e afins... A sua música leva-me(nos) para outras paragens, décadas atrás, quando a soul era "líder de audiências". Sem se mexer muito, está lá tudo, a força da sua voz e dos seus gestos, será que estou bem, ou a ficar maluco? Para mim está mais do que à vista... E para ti?


Ficamos com Mercy e Cry to me (cover).





Abraços

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Coimbra tem mais encanto na hora... do rock n' roll! Entrevista a Victor Torpedo PARTE II

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É verdade que vai haver um regresso dos Parkinsons? São saudades?

Em relação aos Parkinsons vai ser só uma reuniao temporária, e volta a acontecer devido a pressões exteriores à banda...quer dizer pressões positivas.
O convite para o primeiro concerto veio de Londres e vamos tocar na nossa casa espiritual, no Dirty Water Club, a casa do Garage Punk Mundial, é um convite que nos é difícil recusar devido à intimidade que temos com as pessoas desse clube e com a importante ajuda que nos deram no passado. E vamos tocar também em Portugal na semana seguinte, na inauguração da minha exposição "we love 77" em Coimbra, e no dia anterior no Algarve....vão ser concertos intimistas para matar a saudade de alguns amigos e também algumas saudades nossas....



O que acha das bandas/projectos dos restantes Tédios Boys?

Todos têm projetos com pés e cabeça....mas tenho mais interesse nas pessoas do que na sua música, mas respeito-os imenso como sobreviventes de uma grande batalha de mais de vinte anos para tentarem mudar a pobre paisagem musical deste país,tudo de melhor para eles....




Como classifica a sonoridade dos Tiguana Bibles?

Os Tiguana Bibles são um estranho híbrido musical bebendo influências em vários géneros musicais passando pelo rockabilly, country, 6o's beat etc....Mas mais que isso os Tiguana Bibles têm um lado negro e um som que vive entre os ambientes cinematográficos de um David Lynch ou de um Tarantino.....acho que fazemos um "rock" fatalista e dramático, a banda sonora ideal....


Acha que a cena musical de Coimbra traz/é algo de especial inserida no contexto da música portuguesa?

Não, a resposta é simples....não há uma cena musical em Coimbra....a ideia de Coimbra como capital do rock, como dizem muitas vezes....dá-me vontade de rir.


PALAVRA PUXA PALAVRA:

Bono Vox - "Madre Teresa de Calcutá"
Joe Strummer - "Metade do meu coração"
Rolling Stones - "Grande Banda com uma pessoa horrenda, vaidosa como frontman, mas ninguém lhes consegue chegar perto, principalmente nos anos 60"
Xutos e Pontapés - "Zé Pedro, Zé Pedro, Zé Pedro...."
Kurt Cobain - "Entendo, mas não faz parte do meu universo, não é o grito da minha geração"
Rock'n'Roll - "Don't step on my blue suede shoes....identidade e personalidade,e claro, juventude"
Punk - "Liberdade"
Coimbra - "a cidade que nos viu nascer, Hometown"
Portugal - "Mourinho e Ronaldo.....e carne de Porco à Alentejana"
Londres - "a minha outra cidade, casa"





Victor, muito obrigado e felicidades!
Abraço